De
todas as formas de jogo, é o jogo de faz-de-conta - o jogo de expressão
dramática -, aquele que é mais utilizado pela criança, a ele se dedicando
inteiramente e profundamente. Através dele ela conquista a sua autonomia e
forma o seu carácter, formando, por vivências do mundo da ficção, os esquemas
práticos de que terá necessidade para o seu desenvolvimento.

Os
jogos coletivos, dando à criança a possibilidade de comunicação e de
experimentação com outras, libertam-na de todos os seus condicionamentos deformantes,
como por exemplo a timidez, o desejo de ser admirada, o medo e a tendência para
as graças e as palhaçadas. (in Sousa, Alberto B., Educação
pela Arte e Artes na Educação - 2º Volume, Col. Horizontes
Pedagógicos, Instituto Piaget, Lisboa, 2003.
A
Expressão Dramática tem como objetivo favorecer a descoberta e o desabrochar do
eu na sua relação com o outro,
o que equivale a dizer, sucintamente, na sua relação com o mundo, procurando
desenvolver no presente, no espaço do dia-a-dia, onde se cruzam experiências
através do lúdico, a passagem de um mundo interior para um mundo exterior, do
espaço da imaginação para o espaço da ação.
A
ação como o campo da expressividade e da espontaneidade, da relação próxima e
exigente que coloca a criança no trilho da sua própria formação enquanto
individualidade, é o ponto nevrálgico da Expressão Dramática. É através dela
que se chega ao outro, que se exterioriza a interioridade, procurando um espaço
comum de questionamento e diálogo ativos. Através de jogos sujeitos a regras,
com o intuito de potenciar mais do que condicionar a expressividade individual,
esta atividade tem o condão de abrir horizontes de comunicação e, por meio
desta, contribuir para a cooperação de todos os elementos de um grupo que se
propõem a um objetivo comum.
Paralelamente
àquela função mais educativa que permite à criança exteriorizar as suas
emoções, vontades e receios, encontra-se também a função criativa. Assim, e
consequência da ideia de comunicação, confronto e diálogo, a Expressão
Dramática potencia a criatividade individual ao estimular a imaginação e o pensamento,
uma vez que da interação das crianças nascerá sempre um problema que necessita
de solução ou uma solução que traz consigo outro problema, levando-as a tomar
decisões coletivas, participando de um processo lúdico de criação comum que não
é apenas uma soma da participação de individualidades, mas antes um encontro
entre emoções, vontades e receios. Esta experimentação criativa permite que a
criança desenvolva as suas estruturas de compreensão do mundo, na medida em que
fortalece a sua consciência ativa em relação ao espaço que a rodeia, através do
seu posicionamento perante situações que são, num plano elementar, objeto do
quotidiano.
Nesta
área de expressão, o corpo da criança assume o lugar de ferramenta de ligação a
si própria e aos outros. Entendendo o corpo na sua plenitude bio-psico-motora,
a imaginação e a expressão caminham lado a lado no sentido da exploração de um
universo interior, estimulando assim todo um desenvolvimento da criança nos
planos da sua existência física, sensorial, comportamental e intelectual.
Ricardo
Brito
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